Frevo no tapete vermelho e aplausos em Cannes marcam estreia de ‘O agente secreto’, novo filme de Kleber Mendonça

Estreia do longa com Wagner Moura celebra cultura brasileira no principal festival de cinema do mundo
Críticos internacionais elogiam a produção e destacam direção, atmosfera política e atuação do elenco
Filme ambientado na ditadura militar disputa a Palma de Ouro em Cannes

O Brasil levou sua cultura ao tapete vermelho do Festival de Cannes neste domingo (18), com uma apresentação vibrante de frevo durante a première mundial de O agente secreto, novo longa do cineasta Kleber Mendonça Filho, protagonizado por Wagner Moura. A performance dos músicos e dançarinos brasileiros, ao som do ritmo tradicional de Pernambuco, surpreendeu a plateia europeia e marcou uma das aberturas mais simbólicas e festivas desta 78ª edição do festival francês.

A exibição oficial do filme ocorreu na manhã de domingo (às 10h no horário de Brasília), e foi encerrada com cerca de 15 minutos de aplausos, segundo a jornalista Jada Yuan, do Washington Post. O filme disputa a cobiçada Palma de Ouro, prêmio máximo do festival, e já é considerado por críticos estrangeiros como um dos destaques da competição.

Ambientado em 1977, no auge da ditadura militar brasileira, O agente secreto é um thriller político que acompanha Marcelo (Wagner Moura), um especialista em tecnologia que retorna ao Recife tentando escapar de um passado misterioso, mas encontra uma cidade marcada por vigilância, tensão e repressão.

Cinema brasileiro em evidência internacional
A presença do grupo de frevo no tapete vermelho teve um peso simbólico além da performance cultural. A cena reafirmou a potência artística e política do cinema brasileiro em um dos maiores palcos internacionais, justamente com um filme que mergulha na história recente do país.

Além de Moura, o elenco que participou da estreia conta com Gabriel Leone, Maria Fernanda Cândido, Hermila Guedes, Thomás Aquino e o alemão Udo Kier. A ministra da Cultura, Margareth Menezes, também esteve presente na exibição, reforçando o apoio institucional ao setor audiovisual.

Críticas elogiam estilo, direção e atuação de Wagner Moura
As primeiras análises da imprensa especializada internacional foram majoritariamente positivas, com elogios à direção de Kleber Mendonça Filho, à construção da atmosfera e ao desempenho de Wagner Moura.

A Variety classificou o filme como um “thriller maravilhoso”, destacando a habilidade do diretor de transportar o espectador para o clima opressivo da década de 1970. “Mendonça demonstra uma capacidade notável não apenas de recriar, mas de nos mergulhar naquela época, com seu calor e paranoia”, escreveu a revista.

O site The Playlist foi ainda mais entusiástico, descrevendo a obra como uma “obra-prima” e dando nota máxima ao filme. Para o veículo, O agente secreto é “o esforço mais ambicioso e monumental de uma carreira sem tropeços até agora” e elogia Wagner Moura por “comandar o belíssimo drama criminal com profundidade e presença cênica”.

Já o ScreenDaily reconheceu a força narrativa do filme e comparou sua energia a uma “bebedeira de dois dias”, chamando-o de “um thriller de duas linhas temporais, movido por energia anárquica e errática”.

O Deadline teve uma abordagem mais crítica ao mencionar que a produção é “por vezes longa e confusa”, mas reconhece o estilo visual e entusiasmo do diretor: “Mendonça conseguiu infundir estilo e energia na tela grande”. A atuação de Moura foi descrita como “convincente e reveladora”.

Por fim, o IndieWire definiu o filme como um “thriller de época lindamente lembrado” e deu nota B+ (4 de 5 estrelas).

História, memória e cinema político
Kleber Mendonça Filho retoma em O agente secreto sua tradição de fazer filmes com fortes conotações sociais e políticas. Depois de sucessos como Aquarius (2016) e Bacurau (2019), o cineasta volta a Cannes com uma produção que se debruça sobre os anos mais sombrios da história brasileira.

“O filme se ancora na tensão constante entre passado e presente, entre o trauma da repressão e o desejo de justiça histórica”, disse Mendonça em entrevista coletiva no festival. A dualidade temporal mencionada por críticos se reflete na narrativa que mescla as ações de Marcelo no presente da trama com eventos de seu passado envolto em segredos.

Produção internacional e estreia no Brasil ainda sem data
O agente secreto é uma coprodução entre Brasil (CinemaScópio Produções), França (MK Productions), Holanda (Lemming) e Alemanha (One Two Films). As filmagens aconteceram entre junho e agosto de 2024 em Recife, São Paulo e Brasília. A montagem foi conduzida ao longo de oito meses por Eduardo Serrano e Matheus Farias, e a pós-produção foi finalizada entre Berlim e Paris.

A distribuição no Brasil será feita pela Vitrine Filmes, mas ainda não há data oficial confirmada para a estreia nos cinemas nacionais. A expectativa, no entanto, é de que o lançamento aconteça ainda em 2025, aproveitando o impulso da presença no circuito internacional.

Brasil e a Palma de Ouro
A participação de O agente secreto marca a terceira vez que Kleber Mendonça Filho compete pela Palma de Ouro — ele já esteve na seleção oficial com Aquarius e Bacurau. O reconhecimento crescente da crítica e o engajamento político das histórias contadas por Mendonça fazem dele um dos principais nomes do cinema latino-americano contemporâneo.

A celebração com frevo e aplausos emocionados em Cannes vai além da recepção ao filme: é um reflexo da capacidade do cinema brasileiro de emocionar, refletir e resistir.

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