N’zambi encerra EP com releitura de ‘Frevo mulher’ misturando reggae e cultura pernambucana

Última faixa do EP Frevo Reggado revisita clássico de Zé Ramalho com arranjos modernos que celebram a cultura pernambucana

A fusão entre o reggae e a música tradicional nordestina ganha novos contornos com o lançamento de Frevo mulher, releitura da banda pernambucana N’zambi para o clássico de Zé Ramalho. A faixa, que chegou às plataformas digitais no dia 28 de março, é a última do EP Frevo Reggado, projeto que reverencia o carnaval e a musicalidade de Pernambuco com uma roupagem moderna, ousada e profundamente conectada à ancestralidade afro-brasileira.

Com mais de 20 anos de carreira, a N’zambi reforça sua identidade inovadora e de resistência artística ao unir elementos do Reggae Steppers, do Dancehall e do Frevo em uma só faixa. O resultado é uma canção com forte apelo rítmico e arranjos envolventes, capazes de conquistar tanto os fãs do reggae quanto os apaixonados pela cultura nordestina.

Entre a tradição e a inovação: a alma do Frevo Reggado

Frevo mulher encerra um ciclo iniciado em 2023, quando a N’zambi se apresentou no Paço do Frevo, no Recife. Na ocasião, a banda foi convidada a reinterpretar clássicos do frevo sob uma perspectiva jamaicana. A resposta do público foi imediata e entusiasmada, abrindo caminho para a concepção de um EP com cinco faixas.

“O EP nasceu desse encontro. A gente já traz a cultura de Pernambuco no sangue e na música, mas queríamos experimentar esse cruzamento com o reggae, que também tem muito a ver com nossas raízes e com a luta do povo negro”, conta Gustavo Souto, guitarrista da N’zambi.

Além de Frevo mulher, o projeto inclui outras quatro faixas que já haviam sido lançadas anteriormente: É tanto amor (2023), Arreia lenha (2024), Frevo ciranda (2024) e Oh bela (2025). Cada canção representa uma leitura única e respeitosa dos ritmos e melodias consagradas do carnaval, mas com a sonoridade própria da N’zambi.

Produção cuidadosa e parcerias de peso

Gravada, mixada e masterizada no Fábrica Estúdios, em Recife/PE, Frevo mulher contou com a direção de produção de Jadson Vale, conhecido como Bactéria, que já vinha colaborando com a banda em outras gravações. A co-produção da N’zambi garantiu que a essência do grupo estivesse presente em todos os detalhes do arranjo.

Uma das principais características da faixa está nos metais, elemento indispensável tanto no frevo quanto no reggae. Os arranjos foram criados por André Santos, o Deco Trombone, músico conhecido por seu trabalho com sopros e por transitar com habilidade entre diferentes gêneros musicais.

“A presença dos metais foi pensada para manter o vigor do frevo e, ao mesmo tempo, conectar com o groove do reggae. Foi um desafio, mas o resultado nos deixou muito felizes”, afirma Deco.

Um clássico revisitado com respeito e criatividade

Lançada originalmente em 1979 no álbum A Peleja do Diabo com o Dono do Céu, Frevo mulher é uma das canções mais emblemáticas de Zé Ramalho. Com sua letra forte e melodia contagiante, tornou-se um hino do carnaval nordestino e uma das músicas mais regravadas do repertório popular brasileiro.

Na versão da N’zambi, o clássico ganha novas camadas sem perder a essência. A introdução com levada de reggae prepara o ouvinte para a fusão rítmica que se intensifica no refrão, onde o frevo explode em sua potência original.

“Foi importante para a gente manter a força da composição. A letra de Zé Ramalho é extremamente simbólica, fala de uma mulher poderosa, quase mítica. Nosso trabalho foi dar uma nova roupa a essa narrativa sem descaracterizá-la”, explica George de Souza, vocalista e guitarrista da banda.

Representatividade e ancestralidade como guias artísticos

Mais do que um experimento musical, Frevo Reggado é um projeto com identidade política e cultural. A banda carrega uma trajetória marcada pela valorização das origens afro-brasileiras, presente tanto nas letras quanto nas sonoridades que escolhe explorar.

“Fazer reggae em Pernambuco é, por si só, um ato de resistência. E misturar isso com o frevo, que também tem origens negras, é reafirmar essa herança”, reflete Mauro Delê, percussionista. “A gente não está apenas fazendo música, está celebrando uma história que é nossa e que precisa ser contada de novas formas.”

A diversidade geográfica dos integrantes também colabora para essa mistura: os músicos vêm de diferentes cidades da Região Metropolitana do Recife, como Olinda, Camaragibe e Jaboatão dos Guararapes. Isso se traduz em influências múltiplas que enriquecem ainda mais o som da banda.

Presença consolidada na cena musical

Além dos três álbuns lançados — Kaya, Mas Se Oriente! (2008), Pra Verdade Estremecer (2014) e Palavras de Amor (2021) —, a N’zambi tem se destacado pela capacidade de renovar sua proposta artística sem perder a conexão com seu público. Sua discografia traz temas como consciência social, espiritualidade e amor, alinhados à filosofia rastafári e aos valores da cultura afro-brasileira.

A banda já dividiu palco com grandes nomes do reggae nacional como Natiruts, Tribo de Jah, Planta & Raiz e Marcelo Falcão. No cenário internacional, abriu shows para lendas como Alpha Blondy, Dezarie e The Wailers, mostrando que o reggae feito em Pernambuco também tem alcance global.

Disponível para todos os públicos

Com o encerramento do EP Frevo Reggado, a N’zambi celebra um marco em sua trajetória e também oferece ao público uma nova forma de vivenciar o frevo e o reggae. A banda está disponível nas principais plataformas de streaming e suas redes sociais (@nzambi.reggae) são canais ativos de divulgação de conteúdo, agenda de shows e novidades musicais.

“Esse é um projeto que nos orgulha muito. Não é todo dia que se consegue unir tradição e inovação com tanta harmonia. Esperamos que as pessoas ouçam, dancem e se conectem com essa energia”, finaliza Paulo Ricardo, baterista da banda.

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